Projeto Titivillus

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Na Idade Média o esforço repetitivo dos monges copistas estava sempre acompanhado do risco de erro. O sério trabalho de reprodução de obras (não raro bilíngues), como as de Platão e de Aristóteles, exigia, além do domínio da caligrafia e das línguas clássicas, o máximo de cuidado e atenção. Titivillus, segundo a tradição cristã, seria o demônio que estaria sempre atento aos enganos dos escribas. Ele os anotava, juntamente com o nome do monge que os cometera, para apresentá-los em cobrança como pecado, no dia do julgamento final.

Com o surgimento das universidades e o aumento da procura por textos, os escribas sobrecarregados apontavam Titivillus como aquele que os induzia ao erro. Assim, este demônio, tornando-se causa das erratas, passou com o tempo a ser considerado patrono dos escribas e da caligrafia. Com a Renascença esta criação da era medieval perdeu força, mas o leitmotiv continuou a estimular o zelo dos calígrafos.

Os estilos caligráficos de minúsculas Carolíngio (elaborado no final do século VIII d.C.) e Humanista (considerado um redescobrimento do Carolíngio no século XV) serviram de base à emergente produção tipográfica da Renascença. A eles veio somar-se o Itálico (século XV). No início do século XX o estilo Foundational Hand de Edward Johnston resgatou novamente o Carolíngio e deu novo vigor à caligrafia. São essas as matrizes caligráficas em torno das quais o Projeto Titivillus se orienta.

Titivillus é voltado principalmente para pesquisadores envolvidos com comunicação em sua forma escrita, história/teoria e prática da caligrafia e tipografia, bem como design tipográfico. Em seu escopo está a pesquisa e a prática dos estilos de minúsculas citados anteriormente e do estilo Imperial Romano de maiúsculas (século I d.C.), e também estilos de caráter mais decorativo como o Insular minúsculo, o Lombárdico e o Rotunda. O objetivo do Projeto Titivillus é aguçar a percepção e o entendimento das formas e desenvolver a sensibilidade visual e a habilidade manual de pesquisadores e designers em diversos estilos que, continuam sendo o fundamento do design tipográfico nos dias de hoje. As ações concretas para essa atingir esse objetivo se desdobram em laboratórios, seminários e exposições. Quanto ao Titivillus medieval, se acreditamos, como Kant, que devemos agir de forma que cada ato nosso possa se tornar uma lei universal, o demônio desaparece.

Laboratório de Caligrafia Medieval e Renascentista
O laboratório, um desdobramento do Projeto Titivillus, está dividido em quatro módulos. Fundamenta-se num modelo de produção caligráfica medieval e renascentista elaborado a partir da síntese e adaptação das técnicas contemporâneas dos calígrafos David Harris, Edward Johnston e Marc Drogin.