Sagarana: um tipo de letra

Sagarana é o mais recente projeto realizado por Emerson Eller. Trata-se de uma interpretação tipográfica baseada nas letras desenhadas pelo multi-artista Tomás Santa Rosa para a capa da terceira edição do livro de contos do célebre escritor João Guimarães Rosa.

O livro Sagarana foi publicado pela primeira vez em 1946 pela Editora José de Olympio. O nome do livro é um neologismo, recurso que se tornou uma das assinaturas do escritor mineiro. “Sagarana” une o radical “saga”, de origem germânica que faz alusão às narrativas em prosa, e o sufixo “rana”, de origem tupi que significa “semelhante à.” [1] Assim, “sagarana” quer dizer “semelhante à uma prosa.”

O designer e pesquisador Emerson Eller vive hoje em Portugal, onde faz doutorado. De lá, ele nos conta que o livro de Guimarães Rosa serviu para ele como uma linda vereda – um caminho que o levou de volta à Minas Gerais inúmeras vezes. Assim, além das letras da capa, o texto e o lugar serviram como inspiração e contemplação.

A terceira edição do livro Sagarana – usada como referência para esse projeto – foi lançada em 1951, novamente pela editora José de Olympio que tinha como produtor gráfico o paraibano radicado no Rio de Janeiro, Santa Rosa. Nessa altura, o artista já havia executado diversos trabalhos com a editora pela qual se consagrou uma importante referência no design editorial brasileiro.

Fica notável nos trabalhos executados por ele, o cuidado especial com o uso das letras. As capas dos livros geralmente traziam belos letreiramentos originais. E foram as letras da capa de Sagarana que chamaram a atenção de Emerson Eller. Ele afirma que apesar de possuir irregularidade formal típica de trabalhos manuais, o desenho de Santa Rosa tem muita personalidade.

Nesse sentido, o type designer conta ainda que, basicamente, as letras “a” e “n” extraídas do letreiramento apresentado na capa do livro foram as bases iniciais para o projeto. Por outro lado, essas letras oferecem poucos elementos necessários para a criação de todo o conjunto de caracteres, assim, o designer teve que tomar suas próprias decisões, o que acabou por resultar em letras com maior originalidade nas formas, preservando, porém, a essência do desenho que serviu como referência.

E assim, Sagarana, que de livro tornou-se vila no sertão de Minas Gerais, agora é também um tipo de letra.

Sagarana é uma fonte elegante com raízes no estilo tipográfico romântico, que abarca tipos conhecidos também como didones. Porém, é um tipo sem serifa com uma aparência limpa. O contraste e o estresse vertical preservam o estilo moderno, enquanto as terminais, os remates, as proporções e o visual naturalmente condensado ressaltam sua personalidade própria.

Trata-se de um projeto profissional openType com três pesos (Regular, SemiBold e Bold) que possui um extenso conjunto de caracteres, dando suporte às línguas românticas, tais como Português, Romeno e Francês, bem como algumas línguas Indo-Européias como Alemão, Lituano e Turco.

Atualmente, o designer está finalizando um livreto espécime com edição limitada de 70 exemplares, que serão assinados e numerados. Esse objeto editorial foi impresso em risografia e traz em suas 20 páginas diversas composições tipográficas com excertos da obra de Guimarães Rosa. Além disso, conta com as fotografias inspiradoras da artista Mariana Cabral, realizadas na vila de Sagarana, em pleno sertão mineiro.

O livreto será vendido separadamente, entretanto, alguns exemplares serão enviados aos primeiros que comprarem a família tipográfica completa.

A fonte Sagarana foi lançada sob o selo Eller Type e já está disponível para venda através da distribuidora Fontspring, e brevemente estará também em outras mais.

>>> https://www.behance.net/emersoneller

>>> https://www.fontspring.com/fonts/eller-type/sagarana

>>> https://cordelaranjadoce.wordpress.com

[1] FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova fronteira, 2009.


 

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