reúne um grupo de professores e pesquisadores em torno da escrita. Os diversos significados que esse termo – escrita – nos oferece funcionam como guias para as práticas do grupo. A escrita como “resultado material de um gesto físico que consiste em traçar, regularmente, signos, seja usando a mão, seja (actualmente) de forma mecânica” balizam o estudo e a prática da caligrafia. Essa prática traz consigo, no âmbito do grupo, o próprio gesto de escrever e de ensinar a escrever segundo estilos vários e de acordo com métodos existentes ou em desenvolvimento, além de pesquisas acerca das formas, da história das escritas e de materiais e instrumentos, sejam aqueles usados pelos calígrafos de épocas e culturas remotas, objetos paleográficos por excelência, sejam os atualmente disponíveis.
Já no âmbito da escrita mecanizada, encontramos a tipografia, entendida aqui como o próprio ato de desenhar tipos, letras, alfabetos, famílias, resgatando, por um lado, a história iniciada, no Ocidente, por Gutenberg e seus tipos móveis gravados em metal para serem usados em prensas e, por outro, valendo-se das tecnologias digitais, dos softwares que nos habilitam a criar faces tipográficas sem necessariamente valermo-nos de punções e outros gestos do gênero (apesar de essa nova prática sempre prever um gesto manual anterior à autoração). Aqui, o grupo encontra uma situação peculiar, que é o eminente desaparecimento (comercial, mercadológico, ao menos, e em nosso contexto social) das gráficas que ainda se valem das técnicas de composição e impressão com tipos móveis. Sendo assim, o grupo se ocupa, nesse campo, tanto da criação e produção tipográficas, quanto da memória da tipografia, entendida como arte e técnica de impressão. Já a escrita como “um tipo de comunicação, visual, silencioso e estável” lança-nos, de forma mais direta, em direção ao design gráfico, que trabalha a escrita principalmente em seus projetos editoriais e de identidade visual, sejam eles destinados à mídia impressa ou digital.
A abordagem da escrita pelo design gráfico passa também pelo entendimento da escrita como “um conjunto de valores complexos que afectam o conteúdo e a forma estética daquilo que foi escrito, situando-se, assim, perto do ‘Estilo’.” Daí, nosso interesse em trazer à cena a semiótica, que, entre outras coisas, nos ajuda a pensar essa função estética da escrita. Também aqui o grupo se volta para o entendimento da própria “escrita do design”, ou seja, da pertinência em se construir um discurso acadêmico-científico nessa área de conhecimento relativamente recente – o design. Por fim, a escrita pode ser entendida como “uma prática significante de enunciação, através da qual o sujeito se coloca na língua de uma forma específica”. Essa definição, que funciona como uma espécie de “sentido recente e mal conhecido” do que vínhamos chamando (e continuamos a chamar) de literatura, nos aproxima não somente dos escritores e seus romances, contos, poemas, mas também de seu suporte mais notável, o livro. Além disso, aqui nos voltamos para práticas de escrita menos institucionalizadas, por assim dizer, como o grafite urbano e os grafismos ameríndios, por exemplo, que têm a ver com esse movimento subjetivo atravessado (ou permitido) pela escrita. Enfim, nossa gama de interesse é ampla, valendo-se de tudo o que está ao redor do (da) grámma (escrever em grego), ou seja, da escrita, da letra.
Prof. Dr. Sérgio Antônio Silva
-grafia: Estudos da Escrita
Programa de Pós-Graduação em Design – PPGD
Escola de Design – Universidade do Estado de Minas Gerais
Referência
BARTHES, Roland, Mauriès, Patrick. Escrita. In: Enciclopédia Einaudi. Vol. 11. Oral, escrito, argumentação. Lisboa: Imprensa Nacional, 1987.