Notícias do V Encontro de Tipografia

Por Sérgio Antônio Silva

O Encontro de Tipografia é um evento que acontece anualmente em Portugal. Começou a reunir profissionais da área do design tipográfico deste país, como um encontro nacional, mas a partir do terceiro ano, tornou-se internacional. A programação constitui-se de conferências, mesas, painéis e workshops. Cada edição tem um tema, o deste ano foi condensado em uma única palavra: “Ubíqua”. Cada edição tem, também, uma cidade sede, aquela em que se encontram os profissionais (de alguma instituição de ensino superior) que assumem a comissão organizadora e a executiva do evento. Neste ano, o encontro aconteceu em Barcelos, já que a organização estaria a cargo da equipe do Instituto Politécnico do Cávado e do Ave (IPCA), mais precisamente, do Departamento de Design da Escola Superior de Tecnologia (EST).

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O grupo Grafia: estudos da escrita contou com a participação de Emerson Eller na edição de 2014. Emerson saiu de Belo Horizonte e foi até Idanha-a-Velha (a organização esteve a cargo, na ocasião, do Instituto Politécnico de Castelo Branco – IPCB) apresentar um artigo sobre tipografia vernacular, parte de sua dissertação de mestrado que, à época, eu orientava. Esse foi o primeiro motivo para planejarmos uma segunda participação no Encontro de Tipografia.

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O segundo motivo foi eu ter, logo que saiu a chamada para submissão de trabalhos, um assunto na manga, que gostaria fosse apresentado numa situação assim, de evento internacional europeu: a tipografia para livros em línguas indígenas, a tipografia indígena. Daí ajuntei a pesquisa que venho desenvolvendo, nesse âmbito, junto com a Paula Gobetti, na Escola de Design da Universidade do Estado de Mina Gerais (ED/UEMG), com a experiência de Maria Inês de Almeida no âmbito da educação e das edições indígenas na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e no grupo Literaterras: escrita, leitura, traduções. Assim, propus um artigo assinado por nós três, que foi aceito.

O fato de eu estar em Lisboa, num estágio pós-doutoral, facilitou-me a viagem a Barcelos, de modo que fui eu o representante das vozes do texto, no evento. Barcelos fica no Norte do país, na verdade no Cávado. O IPCA é uma escola relativamente nova, mas muito bem estruturada e promissora, no cenário de ensino de design e afins em Portugal. As anfitriãs Catarina Silva, Marta Madureira e Paula Tavares receberam-nos com agrado, correu tudo bem, do meu ponto de vista, ao longo da estada em Barcelos.

Assim, apresentei, no auditório do IPCA, num painel que começou às 11h 45min do dia 28 de novembro de 2014, o texto “A letra ubíqua da floresta”. O título enigmático desvendou-se na medida do possível, na apresentação, pois o tema é complexo. Estiveram ao meu lado Susana Azevedo, que falou de tatugrafia, Rita Bastos, a recordar os tipofotos, e o moderador, Rui Mendonça. Houve comentários elogiosos, mas a mesa desfez-se rápido, por conta talvez do tempo de intervalo à vista. Em seguida procuraram-me alunos brasileiros, dali e da Universidade do Porto, de graduação e mestrado em Design: Álvaro Beleza, Lívia Beleza, Jéssica Macely Garcia, Caroline Figueiredo Torres e uma sua amiga portuguesa. Depois, conversei com outros participantes, como a Teresa Cabral, que foi moderadora da primeira sessão, com a própria Susana, que é orientanda de doutorado da Teresa, com um espanhol de Barcelona cujo nome não guardei e assim foi, ao longo das jornadas, nos intervalos, no almoço e no jantar, no café e no bar, eu sempre voltava a falar da tipografia dos índios.

O convidado de honra do evento, por assim dizer, foi Gerry Leonidas, o grego da AtypI e do prestigiado mestrado em Typeface Design da Universidade de Reading (UK), presidente da comissão técnica e científica do Encontro de Tipografia. Além dele, nomes de destaque, como: Dave Crossland, designer inglês cuja ideia de software livre, eu a entendi como o caminho a ser seguido, no caso das tipografias com aplicação a línguas indígenas; o português Miguel Sousa, que trabalha para a Adobe; seus compatriotas, todos importantes designers de tipos: Dino dos Santos (que apresentou também uma exposição de livros de caligrafia, de sua coleção, montada na Câmara Municipal da cidade e chamada de “As artes de escrever diversas sortes de letras”), Joana Correia, Pedro Amado, Vítor Quelhas e Rui Abreu. Na verdade, a lista deveria nos incluir a todos (e, pelo visto, tende a isso, se não paro por aqui), pois a honra foi a partilha de conhecimentos e ideias que o evento proporcionou. Agora é aguardar o Encontro de Tipografia de 2015.

 

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