Paisagens Tipográficas

Por Sérgio Antônio Silva

Emerson Eller chegou ao Mestrado em Design da UEMG, em 2012, com a intenção de investigar as manifestações de tipografia vernacular em Belo Horizonte. Trouxe o diploma, o histórico, o currículo e o portfólio na mão – vindo de Franca, São Paulo, onde, na Universidade de Franca, graduou-se em Design Gráfico, sendo natural de Governador Valadares, Minas Gerais – e uma ideia na cabeça: a cidade que escolhera para realizar o mestrado – Belo Horizonte – haveria de lhe fornecer uma nova paisagem tipográfica vernacular.

Foi o que aconteceu: Belo Horizonte abriu-se aos olhos do pesquisador que soube aproveitar e recolher o que essa cidade lhe oferecia, em seu cotidiano: letras. Em cartazes, faixas, placas, murais, sinalizações, epígrafes, grafites, pichações, enfim, em todos os lugares por onde o pesquisador passava (este foi, por assim dizer, um método, o da perambulação), as letras lá estavam. “Letras do cotidiano” foi a ideia que veio e o título que ficou. À cidade coube ser lembrada no subtítulo, e assim traçou-se o rumo da dissertação: Letras do cotidiano: a tipografia vernacular na cidade de Belo Horizonte.

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O resultado é todo ele bom: o diálogo com a teoria e crítica da tipografia, a noção de cultura, memória e cidade, o valioso registro fotográfico, os critérios de classificação e análise de tipografias etc. Há, em especial, a parte que trata da matéria dos pintores letristas de Belo Horizonte. Emerson entrevistou quatro deles – Adílson, Lauro, Gilson e Karany, e em seu texto, a partir das entrevistas e das fotografias, deu voz a esses letristas, com histórias tão interessantes acerca da profissão. Existe, sim, neste caso, um modo específico de desenhar letras que tem a ver com a cultura local, com o modo como as pessoas vivem, suas representações sociais, suas experiências. Dos cartazes do Centro às vitrines de vidro da Floresta, dos grafites da Antônio Carlos aos murais do Alípio de Melo, Emerson foi desenhando o mapa dos letreiramentos na cidade, demarcando seus signos no contexto da tipografia vernacular.

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Finalmente, há o capítulo surpresa, em que se mostra a “Sucata: uma reciclagem tipográfica”. Não que fosse de todo inesperado, mas o desenvolvimento de uma tipografia vernacular (ainda que incompleta, é certo, para alguns padrões de uso atuais), a partir de um letreiro que fica à porta de um ferro-velho da Rua dos Guaicurus, arrematou com louvor todo o trabalho. Do ferro-velho à Sucata, a transposição das letras da cidade para a tipografia do mundo. Eis o caminho sugerido no desfecho da dissertação de Emerson Eller, esse abridor de letras de quem tive a satisfação de ter sido o orientador de mestrado.

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